“Para proteger o oceano, é preciso mudar o sistema, não apenas o comportamento.” A afirmação é de Sharon Matos, Assistente Executiva do projecto Resíduos Costeiros em Moçambique (RRCM), implementado pela Associação Moçambicana de Reciclagem (AMOR). A frase sintetiza a abordagem defendida pela organização durante a 3.ª Conferência da Biodiversidade Marinha, onde foi apresentado o mecanismo das Moedas Azuis, uma solução inovadora que alia conservação marinha, gestão de resíduos e inclusão comunitária.
A ligação directa entre as comunidades costeiras e os recursos naturais torna-as protagonistas na conservação marinha. São elas as primeiras a sentir os impactos da escassez de recursos, e é também nelas que reside o potencial para uma transformação duradoura.
Consciente desse papel central, a Associação Moçambicana de Reciclagem (AMOR) apresentou, durante a 3.ª Conferência da Biodiversidade Marinha, uma visão sistémica e inclusiva para a gestão de resíduos como ferramenta de conservação marinha.
No painel sobre “Adopção de Novos Comportamentos Sustentáveis para a Conservação da Biodiversidade Costeira e Marinha”, a AMOR destacou o mecanismo das Moedas Azuis, um fundo inovador que incentiva práticas sustentáveis através da recolha de resíduos sólidos nas zonas costeiras.
“A conservação da biodiversidade marinha começa com as comunidades. As Moedas Azuis promovem a mudança de comportamento. Lidamos com a gestão de resíduos sólidos e queremos melhorar a qualidade de vida das comunidades com quem trabalhamos”, afirmou Sharon Matos, Assistente Executiva do projecto Resíduos Costeiros em Moçambique (RRCM).
As Moedas Azuis são financiadas por empresas e entidades de cooperação, e recompensam financeiramente as comunidades pela recolha de resíduos. A iniciativa, monitorada através da aplicação KOLEKT, transforma a despoluição ambiental em fonte de rendimento e contribui para a regeneração dos ecossistemas marinhos.
“Ao valorizar os resíduos, as Moedas Azuis oferecem às comunidades uma alternativa viável a práticas como o corte de mangais para produção de carvão”, explicou Sharon.
Além da intervenção comunitária, a AMOR também colabora com o sector privado e instituições governamentais para construir um ambiente regulatório que incentive o redesenho de produtos e embalagens, tornando-os mais recicláveis e compatíveis com os sistemas locais de gestão de resíduos. Esta abordagem reforça tanto a economia circular como os indicadores de sustentabilidade empresarial.
“A mudança começa quando criamos ambientes que incentivam e facilitam escolhas sustentáveis. O desafio da poluição marinha não é apenas comportamental, é também estrutural e jurídico”, sublinhou Sharon.
A participação da AMOR na conferência reforça a importância de uma abordagem integrada, que envolva comunidades, empresas e decisores políticos na construção conjunta de soluções sustentáveis, eficazes e socialmente justas para proteger a biodiversidade marinha.